sábado, setembro 23, 2006

Ser turista em Lisboa

Este fim-de-semana é uma das duas alturas do ano em que se pode visitar as ruínas romanas que existem debaixo da Baixa. A Mónica fala-me deste evento único mas pouco publicitado e combinamos encontrar-nos em frente ao Café Nicola no Rossio.

Essa instituição lisboeta que visitei...duas vezes. Poderei atrever-me a auto-intitular-me alfacinha depois de dizer uma coisa destas? Ou serei uma verdadeira lisboeta exactamente por isso, porque pouco ou nunca visito estes ex-libris?

Um verdadeiro lisboeta é aquele que nunca foi turista em Lisboa!

Ao lado do café Nicola há um jornaleiro. Uma loja estreita, como um corredor, com um homem sério atrás do balcão, daqueles que não responde ao “bom dia” mais sorridente. A estreiteza, as paredes e tectos de madeira, o cheiro a papel, são típicos destes jornaleiros portugueses metidos em vãos de escada, mas a toda a volta só vejo títulos como Veja, Deir Spiegel, El País, The Economist. Já sei onde vir comprar imprensa estrangeira. Hoje compramos o SOL e o Expresso e decidimos seguir.

À entrada da rua dos Sapateiros, junto ao arco, três indianos conversam. Um deles usa um turbante sik. Que saudades da Índia...

Dois metros adiante, uma entrada Arte Nouveau que foi o primeiro cinematógrafo de Lisboa dá agora acesso a um Peep-Show. Que pena... pelo menos não estragaram a fachada. ;)

Continuamos, uma leitaria já bastante descaracterizada com as sua novas mesas de plástico, um restaurante com ar bastante fétido, uma loja de electrodomésticos e ouço “que tentação!”. Não devo ter ouvido bem. “Desculpa?!” “Sim eu sei, estou uma dona de casa perdida e sonho com frigorificos e fornos que funcionem...” “Meu Deus! A minha amiga enlouqueceu!”

Pequeno-almoço MegaVegan e procuramos a entrada ao mundo subterrâneo da baixa pombalina e seus vestígios romanos. Será em frente ao nº75. Estranho não haver ninguém na rua, um evento destes deveria atrair uma multidão mas não digo nada. Nº 75, não há nada aqui... Que parvoíces é em frente ao nº75 da Rua da Conceição! Seguimos.

“Adoro Retroseiros!” Agora sim, esta é a minha amiga a falar!


E então, a multidão! Uma fila interminável dá a volta ao quarteirão inteiro. Esperava muita gente mas isto é uma loucura! Não é preciso muito para concluir que umas 3 horas de espera é o mínimo que temos pela frente e isso simplesmente não vale a pena. Mudança de planos, vamos passear por cima de terra!

Já que temos os jornais para ler e está um dia lindo dirigimo-nos à esplanada do Museu do Chiado. É um sítio especial, com espaço, tranquilidade, um pátio que nos acolhe e protege da cidade. Pátios, milenar invenção árabe. É um bom sonho sonhar com um pátio.

Apanhamos o 28 para a Graça e do seu miradouro observamos a cidade, o rio, o castelo, as amoreiras, o centro comercial do Martim Moniz, a ponte e o convento do Carmo. A mistura entre o velho e o novo assim, debaixo do nosso nariz.

Time to eat! Descemos pela feira da ladra em busca de peixinhos da horta um dos poucos pratos típicos portugueses que a minha escolha vegetariana me permite. Não encontramos mas fico feliz com uma sopa de legumes e dois ovos estrelados com arroz de grelos acompanhados de dois doces panachés. Deixo a dieta para os dias de semana!

Seguimos pela encosta abaixo e vamo-nos perdendo pelas ruelas que apenas visito nos santos populares quando o fumo das sardinhas e febras na brasa e as multidões de foliões impedem ver estes cantos e recantos tão especiais.

Direita ou esquerda? Vamos andando, andando. Cruzamo-nos com outros turistas e outros lisboetas nestes pátios onde imagino não há privacidade mas se vive ainda como se numa aldeia, no centro da capital.

No fim do nosso passeio sinto-me mais lisboeta e mais portuguesa, depois de um dia de turismo na minha cidade.

domingo, setembro 17, 2006

Votem!

Até sempre

E agora?

Voltei à 4 meses e uns dias. Antes de chegar a Lisboa, nuns dias passados em Londres, discutia animadamente o significado de "voltar", em inglês "going back". Queria tudo menos voltar a trás. Viajar mudou-me e não quero voltar a ser quem era porque agora sou muito mais eu. Mas afinal eram só 3 semanas de "férias". Uma curta visita para abraçar família e amigos, cheirar Lisboa, ver a Maria e o Zé casar, partilhar a sua felicidade e partir de novo rumo a mais experiências, sítios, mundos.

Afinal não. Desde o momento em que pousei a mochila em casa senti que devia ficar. Partilhei muito mais do que felicidade. Os abraços que dei foram bem mais tristes do que podia imaginar.

Fiquei. Voltei. I came back.

E agora? Uma volta ao mundo completada e agora? Mil sítios visitados, e agora? Tantas experiências vividas, e agora? Amigos encontrados, e agora? Amigos perdidos... e agora....

quarta-feira, abril 19, 2006

São Francisco

Ao aterrar em São Francisco tenho por momentos uma sensação esquizofrénica de não saber onde estou. O que vejo é ocidental, falo inglês e sou entendida, mas só vejo asiáticos e há indicações em chinês por todo o lado! Depressa percebo que, como muitas cidades norte-americanas, SF foi formada por uma miríade de comunidades emigrantes que chegaram aqui à procura de uma vida melhor. Chineses, Hispanicos, Negros, Italianos, Irlandeses. Há de tudo um pouco.

Vista das traseiras da Pousada da Juventude de Fisherman's Wharf, onde fiquei


Construida sobre colinas à beira da água, com a ponte Golden Gate (igual à Ponte sobre o Tejo) a presidir muitas das melhores vistas, há quem diga que São Francisco é muito parecida com Lisboa. De facto sinto-me em casa a passear à beira da baia, pelos relvados cuidados e jardins floridos. Sinta falta da cor, da luz, da pureza do ar maritimo.


A minha preguicite turistica continua e não tenho vontade nenhuma de ir a Alcatraz, nem de andar sobre a Golden Gate Bridge, nem mesmo de me meter num dos famosos eléctricos que afinal só são usados por turistas mesmo. Passeio pela cidade e aproveito o sol e os relvados (não sei porquê em Pequim não se podia pisar a relva) para ler ao ar livre o Crime e Castigo de Dostoesvsky que encontrei na Pousada. À parte dos leões marinhos que ocuparam um bocado da marina e do SFMOMA deixei as atracções turisticas de S.Francisco para uma outra visita.

Estes leões marinhos selvagens invadiram o Embarcador 39 depois do sismo de 1989, são livres de entrar e sair. Chegam a estar aqui 500 animais. Neste dia havia cerca de 200. Parecem totalmente alheios às centenas de turistas que os observam todos os dias.


Estes 5 dias foram dedicados a outros pequenos prazeres: falar e ser entendida pelos locais, fazer a minha própria comida, respirar fundo sem ficar intoxicada pela poluição, perder-me na multidão anónima onde não sobresaio por ser ocidental, beber coca-colas cheias de gelo, olhar as montras modernas e as roupas da ultima moda dos transiuntes cheias de cor e com aspecto novo em folha, ver espectaculos gratuitos pela rua...

A rua mais torta do mundo!

"Cable cars"

Uma das melhores coisas de voltar ao ocidente são os supermercados. A variedade de yogurtes, bolachas, pão, queijo! Azeite! Azeitonas! A apresentação dos productos frescos, frutas e saladas. Sou feliz a fazer sandwiches em pão integral com azeitonas verdes, queijo emmental e alface iceberg na cozinha da Pousada da Juventude. :)



Apenas uma coisa me chocou: o olhar sem esperança, a loucura e agressividade que senti dos muitos (muito mais do que alguma vez poderia imaginar que haveria) mendigos que vi. Dormem em cantos e bancos de jardim, andam bêbados pela rua, com roupas nogentas, carregam o cheiro de quem não toma banho à semanas senão meses, o espirito quebrado, a vida sem sentido. Não se enquadram na sociedade e na sua loucura viram-lhe as costas, sem se darem conta da sorte que têm de ter nascido no mundo ocidental. Nestes 7 meses na Ásia, em especial na India, vi pessoas que vivem nas condições mais humildes com um sorriso sempre radioso. Vi a pobreza mais completa, de onde não se escapa nunca e ainda assim, sorriam. Não posso, nem quero, fazer um discurso paternalista de como no ocidente temos todas as oportunidades e não as aproveitamos, e não as agradecemos, nem nos damos conta. Mas entristeceu-me verdadeiramente sentir a desesperança, o vazio, em que estes homens e mulheres abandonados pareciam viver.

domingo, abril 16, 2006

Boa Pascoa!

quinta-feira, abril 13, 2006

O pior jet lag da minha vida!

Sabiam que ao atravessar o oceano pacifico andamos para trás no tempo? Pois é! Eu explico: como vamos em direção oposta ao sentido de rotação da terra e cruzamos a linha internacional do tempo por isso chegamos ao nosso destinos antes do tempo, quer dizer, antes da hora onde estavamos, é tipo um atalho, andamos mais depressa do que o dia.

Exemplo práctico: sai de Pequim na 5ª feira às 12h da tarde. Passei 10 horas no avião. E cheguei a S.Francisco às 8h da manhã da mesma 5ª feira dia 13 de Abril. Isto é vivi o mesmo dia duas vezes! Quer dizer, mais ou menos já que às 16h estava com uma pedrada que já não andava direito e não houve café (muito menos a porcaria do café americano) nem passeios ao sol que me mantivessem acordada...

E assim começaram 4 dias de horários trocados... acordar às 6 da manhã, dormir à tarde e dar voltas na cama à noite... Só me passou com uma noite de copos que me fez dormir até mais tarde no domingo! Quem disse que sair à noite é uma actividade inútil?

terça-feira, abril 11, 2006

Os jardins chineses são o máximo porque...

Podemos ler o jornal na parede...




Aprender a dançar o tango.

Fazer Tai'chi sozinho...

... ou em grupo, com...

... ou sem espada.




Ou até dançar com fitas às cores ao som de música tradicional.



Isto e muito mais pode encontrar-se num jardim chinês a qualquer hora do dia!

A experiência cultural por excelência!

segunda-feira, abril 10, 2006

A Muralha

Visitar a Grande Muralha da China era algo que, embora me apetecesse muito, me preocupava. Não me apetecia nada um dia cheio de lojas de souvenirs, grupos barulhentos de chineses, japoneses e americanos reformados, de cabelos grisalhos, vestidos no seu rigor turistico com a mochila a condizer com a “pochette”. Os casalinhos com ténis e blusões iguais, máquina fotografica numa mão e begala de passeio na outra. Os vendedores de gelados, de bebidas, de roupa. Os taxistas chatos, autocarros cheios, 50 paragens em lojas todas iguais e bares infecciosos dos amigos do condutor do autocarro... enfim... a experiencia turistica low-budget na Ásia pode chegar a ser muito frustante.



A Pousada onde estou, em Nan Luo Gu Xiang – para mim uma das ruas mais cool de Pequim – organiza umas vezes por semana transporte para uma das zonas menos visitadas da muralha JinShanLing. Daí são 10 km até Simatai onde nos vão buscar para nos devolver à cidade. Asseguram-me que não há paragens em lojas, nem custos escondidos. Agrada-me a ideia de passar um dia a caminhar sobre 2.000 anos de história e inscrevi-me.

Mais do que uma linha de defesa impenetrável, a verdadeira função da muralha foi durante séculos a de uma via de comunicação utilizada no transporte de pessoas e bens por terreno montanhoso. E por montes e vales, subidas ingremes e troços de muralha quase desfeita, de torre em torre, caminho sobre as mesmas pedras que desde o inicio da história da China soldados, camponeses, ladrões, monges e sábios pisavam nas suas viagens pelo Império do Meio.


Pude aperceber-me do imenso esforço humano que foi necessário para construir esta incrivel muralha – dizem que um dos materiais de construção utilizados foram os ossos dos trabalhadores que aqui morriam, talvez os seus fantasmas ainda aqui vivam...

sexta-feira, abril 07, 2006

Pequim

Cheguei a Pequim já bastante cansada de ser turista... desde 20 de Fevereiro quase sem parar, desde o sul do Vietname até ao Norte da China, de Templo em Templo, montanha em montanha, autocarro em autocarro...



Decido ser preguiçosa, dedicar os meus dias a encontrar cafézinhos e restaurantes com cadeiras confortaveis para ler, ver o mundo passar, escrever e dedicar o meu tempo a não fazer nada.

Na verdade escolhi uma boa cidade para fazer isto. Em Pequim não faltam sitios ocidentalizados ou não, onde apetece ficar, experimentar os diferentes chás e sobremesas, assistir a performances de arte contemporanea e não pensar demasido.



Pelos velhos bairros, os hutongs, perdi-me vezes sem conta, a andar sem objectivo definido pelas ruas estreitas e cheias de vida. Em vez de monumentos procurei uma ou outra galeria de arte, como a Red Gate Gallery localizada num imponente pedaço de muralha antiga. Em vez de grande museus visitei pequenas colecçoes como o Museu de Arte Poly que em duas salas concentra mais história antiga do que muitos dos supostos sitios de interesse por onde já passei.

Pequim fervilha de actividade, de movimento, de cultura, de crescimento. Sente-se no ar a prosperidade trazida pela capacidade de trabalho e persistencias chinesas e o poder económico das grandes empresas que cada vez mais apostam na Ásia.

Claro que há duas coisas incontornaveis A Cidade Proibida e a Muralha da China, mas com calma lá chegarei!

Praça Tiananmen ao fundo, a entrada para a Cidade Proibida